GQ Brasil

LONGE DA TOMADA

Mercado dos carros elétricos acelera com a chegada de novas máquinas com cada vez mais autonomia, um item importante em um país de dimensões continentais

TEXTO AUGUSTO SIQUEIRA

A eletrificação gradual da frota brasileira ainda esbarra em um limitador: o baixo número de postos de carregamento. Mas, como o caminho é sem volta e a legislação em prol do meio ambiente fica progressivamente mais rígida nos principais mercados do mundo, as montadoras de luxo têm investido em tecnologia para ampliar a autonomia dos veículos e a velocidade com que se completa a bateria.

Nesta linha, a Volvo acaba de apresentar o XC40 Pure Electric, um carro com autonomia de mais de 400 quilômetros e um sistema que carrega 80% da bateria em 40 minutos em tomada convencional. A agilidade no carregamento não prejudica a performance do veículo, que vai de 0 a 100 km/h em apenas 4,9 segundos. "É um SUV familiar, mas tem o desempenho de um Porsche", diz André Bassetto, diretor de produto e pós-venda da Volvo Car Brasil. O modelo vem com um recurso batizado de One Pedal Drive, que torna a aceleração e a frenagem muito mais práticas por meio de um único pedal, além do inédito sistema de infoentretenimento Google Automotive Services, que integra o carro a ferramentas da gigante tech. "Se você não quiser tocar em nenhum botão, não precisa. Basta falar com o automóvel", explica Bassetto.

Trata-se do primeiro veículo 100% elétrico comercializado por aqui pela montadora, que já conta com um portfólio exclusivamente híbrido no Brasil. É um passo importante para a fabricante sueca, que projeta ter apenas carros elétricos a partir de 2030 e se tornar neutra em carbono até 2040. O próximo lançamento da Volvo no segmento já tem data para chegar. Segundo João Oliveira, diretor geral de operações e inovação da Volvo Car Brasil, o C40, um cupê com a carroceria do SUV XC40, começa a ser vendido por aqui em março de 2022. A autonomia estimada do modelo é de até 420 quilômetros.

BATERIA CHEIA

Lançado em setembro, o XC40 Pure Electric, que custa R$ 390 mil, esgotou-se já na pré-venda, uma mostra de que, aos poucos, e com o avanço da tecnologia, o brasileiro vai se convencendo a deixar para trás o carro a combustão.

Esse receio de que a bateria acabe no meio do caminho, sem uma tomada por perto, tem até nome: "range anxiety". "É a tal da ansiedade que a autonomia gera", explica Emilio Paganoni, gerente sênior de treinamento do BMW Group Brasil. "No Brasil, país de dimensões continentais, são hoje 3.000 estações de recarga (incluindo todas as montadoras). Ainda é muito pouco para poder dar a cobertura necessária, e esse processo vai acontecer de forma gradual", explica.

Para ter mais estações de recarga, o grupo Volkswagen (que comanda também as marcas Porsche e Audi) estabeleceu uma parceria com a empresa de distribuição de energia EDP. O objetivo é "abrir o primeiro corredor de carregamento ultrarrápido do Brasil", conta Leandro Sabes, gerente de produto e preço da Porsche no país. "Estamos instalando carregadores em rodovias, com cobertura de mais ou menos 2.500 quilômetros, incluindo áreas em São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná, Belo Horizonte e Brasília. O projeto já está em execução, e devemos concluí-lo em 2022", afirma. Qualquer pessoa, independentemente da marca do carro, vai poder usar esses espaços para carregar o veículo.

FUTURO PROMISSOR

A Porsche, cuja meta é ter 80% dos veículos eletrificados em até duas décadas, oferece no Brasil modelos da linha Taycan, que podem atingir a autonomia de 484 quilômetros. De acordo com Sabes, o motor menor e mais eficiente é que per

mite tal desempenho. "Ele pesa menos e dá mais alcance ao carro", explica. "O modelo também tem menor coeficiente de arrasto aerodinâmico. Ou seja, o automóvel depende menos do motor para a locomoção", diz o gerente.

A Mercedes promete aumentar ainda mais esses números no ano que vem. O EQS, que chegará ao Brasil em 2022 junto de outros três modelos (EQA, EQB e EQE), poderá rodar até 770 quilômetros com apenas uma carga. "Temos feito investimentos em toda a cadeia produtiva de baterias", conta Evandro Bastos, gerente de produto da Mercedes-Benz Automóveis, que atualmente comercializa no país o EQC, com autonomia de até 417 quilômetros. "A gente precisa criar novas parcerias e novos conhecimentos para desenvolver as baterias. Um desses acordos tem o aporte de € 7 bilhões. O investimento total em eletrificação vai passar de € 40 bilhões."

Para Paganoni, da BMW, o Brasil está em uma boa posição para se estabelecer no mercado de soluções mais verdes. "Em termos de rajadas de vento, de potencial solar e hidrelétrico, a receita que temos por aqui é a melhor do mundo", diz ele. Atualmente, a BMW comercializa apenas dois modelos 100% elétricos no Brasil: o MINI Cooper SE e o BMW i3, que têm autonomia de 234 quilômetros e 330 quilômetros, respectivamente. Mas, de acordo com Paganoni, o próximo lançamento da empresa alemã no país deve praticamente dobrar esses números. "O iX, com uma potência superior a 600 cavalos, tem autonomia de mais de 600 quilômetros." O modelo ainda não tem data definida para desembarcar no mercado brasileiro.

CARTA DO DIRETOR

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2021-11-10T08:00:00.0000000Z

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