GQ Brasil

APETITE PARA MULTIPLICAR

TEXTO ALEXANDRA FORBES FOTO ERIC GARAULT

PRODÍGIO DAS FINANÇAS E DESTAQUE NA FILANTROPIA, PEDRO SILVEIRA MOVIMENTA O SETOR GASTRONÔMICO — E ACABA DE OBTER UM APORTE DE R$ 100 MILHÕES DA XP, CORRETORA DA QUAL FOI SÓCIO, PARA SUA HOLDING DE BARES E RESTAURANTES,

QUE INCLUI AS OITO CASAS DE RODOLFO DE SANTIS

Pedro Silveira tinha 15 anos quando largou a escola em Mogi das Cruzes (SP), onde nasceu, e embarcou para uma cidadezinha na Nova Zelândia, contra a vontade dos pais, para aprender inglês. A decisão levou a mãe, Nidia Cristoforo, às lágrimas, mas ela sabia que não havia muito que fazer para dissuadi-lo: o rapaz já nascera tenaz, a ponto de não deixar nada bloquear o seu caminho. Nem mesmo a dolorosa doença que lhe entortou uma das pernas aos quatro anos de idade e o forçou a usar um aparelho ortopédico. “Brincalhão e cheio de amigos, tirou de letra e seguiu jogando bola”, relembra ela. Silveira voltou do intercâmbio transformado. Mogi tinha ficado pequena para o garoto, que anos depois fez carreira vertiginosa no mercado financeiro, tornou-se sócio da XP aos 32 anos e, no mês passado, aos 40, cofundou uma poderosa holding de bares e restaurantes, a Alife-Nino — e quase simultaneamente o "hedge fund" Upon Global Capital, que ambiciona captar R$ 3 bilhões em 12 meses.

No primeiro ano da faculdade de administração de empresas, na PUC, Silveira já estagiava em uma farmacêutica. Pouco depois, José Carlos Piedade, coproprietário da corretora Liquidez, disse a ele: “Você vai vir trabalhar comigo”. Para a mãe coruja, “viram de cara que o Pedro Henrique era pilhado e iria longe”. De lá, seguiu para o Citi e depois para o HSBC. Até que Piedade o convenceu a voltar para a Liquidez. Silveira se tornou sócio e, quando a empresa foi vendida para a inglesa BGC Partners (à época, a segunda maior corretora do planeta), virou milionário. E foi para Nova York tocar o negócio.

Deu um jeito de se destacar em meio a mil colegas, captando clientes e fechando negócios em ritmo acelerado. Voltou ao Brasil promovido a CEO. Aí se iniciou o flerte com a XP, de Guilherme Benchimol. Silveira trocou o salário gigantesco e as muitas ações que tinha na BGC por uma participação grande na XP, que então valia pouco. “Salário zero. Abri mão do emprego dos sonhos. Aceitei por acreditar no modelo de negócio e no Guilherme. Assumi os riscos que ele assumiu. Fui chamado de louco por todo mundo”, conta.

A partir de 2014, a XP começou a crescer ano a ano. “Foi muito foco, muita vontade de transformar o padrão de investimento no Brasil: de uma cultura de dinossauros a uma de heróis”, diz. “Muita coragem para bater de frente com grandes bancos e modelos super-retrógrados.”

Em 2017, veio a venda de 49,9% da XP ao Itaú. Silveira voltou a morar em Nova York, encarregado de fazer a empresa crescer lá fora. Viajava muito para fechar negócios com clientes, geralmente em torno de uma mesa de restaurante. Com isso, sua paixão por comida (era bom de garfo desde garoto) foi sendo lapidada.

Com o tempo, tornou-se um "foodie" dos mais entusiasmados, pronto para voar oito horas por um jantar inesquecível. As viagens passaram a ser definidas pelos restaurantes e bares que queria conhecer. Os negócios ele encaixava, até porque, a essa altura, as duas coisas já andavam juntas.

Em 2007, seu amigo e sócio Alessandro Ávila o convencera a investir em uma boate, a Heaven, que fez fama. “O 'payback' veio em seis meses, e a gente ganhou 300% de retorno em dois anos. Foi muito agressivo”, conta. Empolgados, ambos captaram R$ 10 milhões e fundaram, em 2010, a Alife, sua própria empresa de bares. Foi na Heaven que Silveira conheceu Samantha Fasolari, trabalhadora e corintiana roxa como ele. Casaram-se em 2011 e são pais de Bebel, de 3 anos, e Rafael, recém-nascido.

Piero Sellan, amigo seu desde a infância em Mogi, conta que Silveira sempre gostou de balada. Chegava aos lugares e falava com todos. “As festas emendavam umas nas outras, das de São José do Rio Preto (SP) aos carnavais em Salvador”, diz. “Mas o Pedro nunca perdeu a hora no trabalho. Mesmo que virasse a noite, às 8h30 já estava na mesa.”

Com o tempo, as farras mudaram. Menos boates, mais restaurantes. Menos vodca, mais vinho — outra paixão que só aumenta. Em 2019, junto com ex-sócios da XP, investiu na importadora de bebidas Cellar, que desde então teve a receita multiplicada por doze. No auge da pandemia, fundiu a Alife (com 21 bares das marcas Eu Tu Eles, Tatu Bola e Boa Praça) com os oito restaurantes do Grupo Nino, do chef Rodolfo de Santis. A própria XP — da qual Silveira deixou de ser sócio, quando vendeu suas ações, pouco após o IPO da corretora — entrou com participação minoritária. Aportou R$ 100 milhões na nova holding, Alife-Nino, que inclui ainda uma cozinha de delivery. A ideia é fazer uma expansão "bem agressiva". Já na primeira fase, doze novos bares Tatu Bola e Boa Praça se somarão ao portfólio, e restaurantes com a assinatura de Santis abrirão filiais no Rio, começando pelo Nino Cucina, de massas — sucesso paulistano.

Pedro Silveira é membro das confrarias mais peso-pesadas do Brasil, nas quais degusta garrafas de vinho de produtores premiadíssimos. Mas nem a ascensão extraordinária nem o fato de ter sido acolhido no círculo fechado dos enófilos mais ricos e poderosos do Brasil o mudaram. Amoroso, cuida da família e dos amigos de toda a vida. Para Sellan, Silveira gosta de misturar todo mundo e compartilhar o que conquistou.

“É um homem de sete instrumentos. Não só se deu bem em um mercado tão competitivo como o financeiro como soube manter o vínculo com amigos das mais

diversas fases da vida e agregá-los na mais completa harmonia”, diz o presidente do conselho de administração do Grupo Guararapes, Flávio Rocha, amigo com quem partilha bons vinhos.

Os confrades são unânimes na admiração pelo caçula da turma. Muitos viajaram até Ibiza, em agosto, para festejar as quatro décadas de Silveira. Entre eles estava Nicola Calicchio, chief strategy officer do Softbank, uma das maiores companhias de investimento em tecnologia do mundo. “Pedro combina o melhor de Madre Teresa e Roberto Campos: encanta por seus valores e generosidade, mas também tem raciocínio aguçado e ótimo julgamento”, diz.

Desde 2014, Silveira doa dinheiro à ONG Gastromotiva, do chef David Hertz, cuja missão é educar jovens que vivem na pobreza para conseguirem trabalhar em restaurantes. “Ninguém precisa saber quanto dou. Se ajudo é para ficar em paz comigo mesmo — e também para dar o exemplo”, diz ele, que é um dos conselheiros da instituição. “Não é papel só do governo zelar por quem não tem renda suficiente em um país como o Brasil.”

Em 2016 exerceu, nos bastidores, papel fundamental na construção do Refettorio Gastromotiva, restaurante aberto no início das Olimpíadas do Rio de Janeiro para servir jantares gratuitos à população carente. O espaço, na Lapa carioca, é embelezado por obras doadas por artistas como Vik Muniz e JR e foi concebido pelo premiado chef Massimo Bottura, da Osteria Francescana, para alimentar quem tem fome usando ingredientes que iriam para o lixo.

Hoje Silveira ajuda a manter de pé o Refettorio. Também é o principal doador da ONG da joalheira Emar Batalha, que atende famílias em situação de vulnerabilidade no Guarujá (SP). Dos filantropos aos amigos, dos confrades do vinho aos sócios nos negócios que se multiplicam, todos dizem que Silveira é movido por uma rara e possante mistura de tenacidade, simpatia e coração. Mas é sua mãe quem melhor define o jovem dínamo. “Otimismo, bondade e facilidade em se dar bem com todos o levam para a frente”, diz. “Pedro Henrique está sempre voando.”

AOS 40, SILVEIRA COFUNDOU UMA HOLDING PODEROSA DE BARES E RESTAURANTES, A ALIFENINO, E O HEDGE FUND UPON GLOBAL CAPITAL, QUE VISA A CAPTAR R$ 3 BILHÕES EM 12 MESES

CARTA DO DIRETOR

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2021-11-10T08:00:00.0000000Z

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