GQ Brasil

O NOVO GURU DO GOLFE

DE UM POLEIRO DESALINHADO EM UM CAMPO DE TREINAMENTO PÚBLICO, GEORGE GANKAS, O RENEGADO TREINADOR DE GOLFE, ESTÁ CONSTRUINDO UM CULTO DE CELEBRIDADES E PROFISSIONAIS AO DESAFIAR ALGUMAS IDEIAS ESSENCIAIS SOBRE COMO O JOGO DEVE SER JOGADO

TEXTO ZACH BARON (GQ EUA) FOTOS MICHAEL TYRONE DELANEY

Em um dia nesta primavera, George Gankas estava me contando sobre sua breve e não muito ilustre carreira como jogador de golfe profissional. Isso foi no fim dos anos 90, depois que Gankas se formou na faculdade, em Cal State Northridge. Resumindo, ele diz que seu "driver" (a primeira tacada a partir do "tee", que é o nome do dispositivo, de madeira ou de plástico, que sustenta a bola para cada tacada inicial) o decepcionava — ele ia longe, mas tinha a tendência de ser bloqueado ou enganchar a bola em campos apertados. Só anos depois, quando começou a lecionar, ele conseguiu controlar as próprias falhas como jogador. "Muito disso era ego", disse ele. “Tinha medo de parecer burro ou jogar uma partida ruim.”

Mas Gankas sempre foi um pouco obcecado pelo "swing" (o balanço do corpo para o jogador realizar a tacada) — como funcionava ou não funcionava — e o que ele descobriu foi que mais e mais pessoas estavam recorrendo a ele para obter conselhos. Então ele se tornou instrutor. Primeiro em Moorpark, um campo de golfe a 80 quilômetros a oeste de Los Angeles, e então — depois que uma cliente lhe perguntou se ele começaria a dar aulas mais perto da casa dela — em um lugar chamado Westlake. Foi lá que Gankas começou a construir uma ampla lista de clientes, que passou a incluir milhares de amadores e, após um tempo, um promissor jogador júnior de 14 anos com um swing caótico, chamado Matthew Wolff, que ele encontrou em um local perto de Westlake.

“Eu só comecei a acertar as bolas”, Wolff me contou, “e ele olhou para mim e disse: ‘Cara, esse é o seu swing de verdade?’. E eu respondi: ‘Sim, cara’. Ele disse: ‘Esse é o swing mais incrível que eu já vi'.”

O movimento agitado de Wolff estava mais para beisebol do que para golfe; ele parecia um grande jogador se preparando para arremessar uma bola rápida. Mas isso não parecia um problema para Gankas, que estava começando a desenvolver uma reputação por repudiar muito da moderna ortodoxia sobre o que devia ou não ser uma tacada de golfe. Os dois se juntaram e formaram uma parceria que perdura. Hoje, Wolff, aos 22 — com aquela mesma ação estranha que ele teve aos 14 —, é um vencedor do PGA Tour, ocupando o 12º lugar no mundo. Enquanto isso, Gankas, que ainda ensina em Westlake, tornou-se um dos mais famosos e influentes instrutores de golfe do planeta.

O golfe é obcecado pela estética. É um jogo conservador nesse aspecto e em praticamente todos os outros: existem regras sobre onde se posicionar, quando falar; existem regras sobre quase tudo. Aparências e etiqueta são tudo. A forma, em particular — a maneira como você golpeia com um taco —, é avaliada não apenas por sua eficácia, mas por sua beleza. Se você ligar em uma transmissão do PGA Tour, é apenas uma questão de tempo até que os narradores apontem alguém como Adam Scott como um exemplo para o espectador em casa imitar. O swing de Scott é o que muitos chamariam de tecnicamente perfeito: no ritmo, bonito e sem pressa do início ao fim. Mas, Gankas perguntou, por que esse tipo de swing é considerado perfeito? Nem sempre o foi.

À medida que a carreira de Gankas como jogador se extinguiu, ele começou a assistir aos vídeos de jogadores de golfe de gerações anteriores, lendas do esporte como Sam Snead e Ben Hogan. E o que ele notou foi que eles fizeram todos os tipos de coisa que você não deveria fazer.

Gankas pensou: "E se voltássemos no tempo?". “Eu pensava: entendemos errado por 20, 30 anos, entrando em biomecânica e pensando que nós tínhamos uma maneira melhor”, ele me contou. “Eu disse: 'Isso não está certo'. Muitas pessoas [me] copiaram, queiram elas acreditar nisso ou não — elas copiaram.” Gankas começou a pregar uma doutrina que dizia: não se preocupe com como você aparenta. “Eu acho que o voo da bola diz tudo”, disse ele. “Eu não acho que a tacada diz alguma coisa. Acho que há muitos jogadores com tacadas bonitas e eles não conseguem marcar pontos. E há tacadas feias que têm uma pontuação melhor.”

Em Westlake, os alunos agora o tratam com reverência como G. Seu preço subiu para algo entre 600 e 1.000 dólares por hora; sua lista de clientes inclui CEOs, gamers, skatistas profissionais e celebridades, que convergem para o campo para ouvir Gankas ensinar, dogmatizar e

“EXISTEM TANTAS MANEIRAS DE FAZER O SWING. ESSA É A TEORIA DE GEORGE”, DIZ MATTHEW WOLFF, PUPILO DE GANKAS

mascar tabaco. Ele dá aula sem meias, com short e chinelos Gucci e um boné de beisebol de aba reta. "Ele se veste como um cara de quem você nunca seguiria um conselho”, me disse Chris Solomon, que fundou a empresa de mídia e podcast de golfe No Laying Up.

O golfe de Gankas não é o mais nobre; trata-se de fazer tudo o que você precisa fazer, mesmo que seja feio ou impróprio: acertar a bola tão longe quanto você puder. Assista a ele no YouTube ou o ouça falar e você perceberá, finalmente, que ele está em uma discussão amigável com toda a história recente de sua profissão. Em termos de resultados, é uma discussão que ele está ganhando.

Assim como a maioria dos grandes campos de golfe na América é exclusiva e fechada ao público, a maioria dos grandes professores está fora de alcance: eles tra

balham em clubes privados ou em turnê com jogadores. George Gankas, no entanto, ainda está em Westlake, batendo em bolas no campo e nos tapetes de borracha. E você pode ainda agendar uma aula, para ajeitar o que você não consegue consertar em si mesmo.

É um jogo difícil, mesmo antes de você olhar por cima da bola e começar registrando as armadilhas da areia e os perigos da água, os "greens" (área de grama onde está localizado o buraco) complicados e os ventos. Jogar bem é sentir-se no controle de todo o universo; jogar mal é o que acontece com os outros 99% do tempo.

A grande falha de Gankas como jogador era o medo. Agora ele ensina seus alunos a vencer o medo com aceitação. Fique presente, ele diz. Quando você estiver no campo de golfe, não mergulhe muito em si mesmo; olhe acima da bola, para a beleza do mundo natural, e saia de seu próprio corpo traidor, seu próprio ego monstruoso. “Para mim, olhar sempre para cima é algo incrível, porque posso ver os detalhes nas árvores”, disse Gankas.

Gankas sem dúvida fez mais do que a maioria em termos de tornar o jogo acessível ao mais amplo espectro de pessoas. Ele dá aulas num campo de golfe público e disponibiliza parte dessas aulas para quem quiser assistir no Instagram. Seu negócio agora inclui um enorme site, onde, através de uma assinatura, você pode obter vídeos de Gankas ensinando praticamente todos os aspectos do jogo de golfe e onde ele inclui algumas pessoas para jogar e responder a perguntas quase que instantaneamente.

Gankas estima que, entre sua lista pessoal e seu site, ele tenha mais de 8.000 alunos. Isso o tornaria um dos instrutores de golfe mais prolíficos dos Estados Unidos, e antes de você levar em consideração aqueles quase 300.000 seguidores do Instagram — mais do que a maioria dos jogadores do PGA Tour. No nível de sucesso de Gankas, ele poderia sair em turnê como treinador de swing com Matthew Wolff ou qualquer outro profissional com quem ele trabalhe ou poderia viajar ao redor do mundo, dando aulas particulares, o que ele ocasionalmente faz.

Aprendi mais com Gankas em cinco minutos do que em qualquer uma das outras aulas que já tive. Estava chovendo torrencialmente durante a nossa sessão, e ele se destacou no meio dela, destemido, identificando falha após falha. Foi claramente fácil para ele. Gankas basicamente pegou meu cérebro, virou-o de cabeça para baixo e sacudiu todos os detritos, as sobras. Ele me fez parar de pensar. Eu assisti aos vídeos que ele deixou para mim muitas vezes. Passei de ruim para um pouco menos ruim. Um pouco menos ruim é incrível.

CARTA DO DIRETOR

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2021-11-10T08:00:00.0000000Z

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