GQ Brasil

EIXOS DA CRIAÇÃO

De todas as qualidades pessoais notáveis, a criatividade é a que talvez esteja mais em voga. Na repetição de padrões, bots, "softwares as a service" e respostas automáticas, qual outra habilidade refletiria melhor o que temos de humano e único na mente e no coração? É abstração com DNA: cada um desenha a sua por um caminho. Do cineasta e fotógrafo Nixon Freire, aqui em sua primeira capa de revista, ao stylist Paulo Martinez, tão experiente quanto original em seu ensaio com Rocco Pitanga, passando pelos profissionais da redação, não faltou personalidade na feitura desta edição.

Para conectar tudo em um conjunto harmônico, as diferenças precisam ser vistas como força e não contradição. Costumo pensar nos exemplos distintos de dois grandes artistas espanhóis quando quero mapear o caminho criativo de pessoas com quem trabalho — e tentar, assim, aprender com elas.

O primeiro é o de Pablo Picasso. Antes de entrar nas fases cubistas, com a geometrização de formas e depois mais perto da abstração, o pintor mostrava seu domínio assombroso das expressões da anatomia humana, em quadros como “Miseráveis Diante do Mar” e “O Menino e o Mendigo”. Estava tudo ali, por inteiro, pronto para ser reembaralhado com tanto controle e clareza que não há quem não entenda o que se propõe visualmente.

E há algumas pessoas que criam em outra rota, em princípio mais caótica, e chegam a um resultado extraordinário conforme equilibram suas explosões. Estas me remetem à trajetória do cineasta Pedro Almodóvar: o absurdo de filmes como "Kika" e "Ata-me" se enche de sentido quando amadurece e se torna mais crível (com uma visão bastante particular de sua cinematografia, arrisco dizer que a escalada vem com "Carne Trêmula", "Tudo sobre Minha Mãe" e, no auge, "Fale com Ela").

Todo mundo é criativo à sua maneira e há muitas direções para isso. Aqui na GQ Brasil, o eixo fundamental é o da conexão. Há algumas edições, temos incluído no nosso chamado "processo criativo" os talentos que retratamos na capa. Em março, almoçamos com Chay Suede em São Paulo, e, em duas horas, ele desenrolou sobre interesses e desinteresses. Um papo informal, sem entrevista, mas que serviu de ponto de partida para pensar nas doze páginas ao estilo corsário que você vê e lê nesta edição, e que refletem o espírito desbravador do ator, apelidado de Pirata na infância pelo apetite em explorar conhecimentos variados, um ponto crucial para o sucesso de sua carreira. A curiosidade, afinal, é um baita impulso para a inventividade, seja qual for o seu caminho.

CARTA DO DIRETOR

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2022-06-10T07:00:00.0000000Z

2022-06-10T07:00:00.0000000Z

https://gqbrasil.pressreader.com/article/281479280066839

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