GQ Brasil

LARGADA NA POLE

Duas startups estreiam nos EUA, e uma chinesa chega ao Brasil, fazendo barulho com marcos notáveis e rivalizando com ícones do luxo sobre rodas

TEXTO HAIRTON PONCIANO VOZ

Você já ouviu falar na marca Lucid? E Rivian? As letras BYD lhe dizem algo? Pois guarde bem esses nomes. Trata-se de três fabricantes que, além de novatas no negócio de automóveis elétricos, são também ambiciosas. As duas primeiras são startups norte-americanas que conceberam veículos com alguns marcos comparáveis aos de modelos da Porsche. A terceira, BYD (pronuncia-se "biuaidi"), é uma chinesa, com forte atuação na produção de painéis solares e ônibus elétricos, que acaba de iniciar sua venda de carros elétricos no Brasil.

A Lucid Motors, nascida no Vale do Silício, na Califórnia, começou a chamar atenção nos EUA por fugir dos clichês. Em vez de estrear no mundo automotivo com um SUV ou uma picape, como todas fazem, a novata apresentou um elegante sedã elétrico e semiautônomo de luxo, batizado de Lucid Air. Dependendo de sua versão, o modelo oferece potência entre 480 cv e 1.111 cv e tem capacidade para chegar a 96 km/h em 2,5 segundos. Como comparação, a versão mais nervosa do Porsche Taycan, a Turbo S, vai a 96 km/h em 2,6 segundos.

Além de ágil no acelerador, o Lucid Air é rápido também na recarga. A startup afirma que seus carregadores garantem autonomia para 480 km em 20 minutos. A autonomia total pode passar de 800 km, graças ao sistema elétrico de 900 volts. Na maioria dos carros elétricos, o sistema está em torno dos 400 volts. A Porsche utiliza como padrão 800 volts.

Internamente, o sedã ostenta um painel digital com resolução 5K. Por meio de reconhecimento facial, o carro ajusta a posição do volante, dos bancos e dos espelhos, a partir das preferências do condutor.

Os preços vão de US$ 95 mil (Air Touring) a US$ 139 mil (Air Grand Touring), uma clara indicação de onde a startup norte-americana pretende posicionar seus carros. Nos EUA, o Porsche Taycan custa a partir de US$ 86 mil. O Turbo S não sai por menos de US$ 187 mil.

Aparentemente, os preços na faixa dos da Porsche não estão assustando os clientes-alvo, já que a Lucid afirma ter uma lista com 30 mil pedidos. Será preciso paciência, porque a falta de componentes tem afetado a produção de toda a indústria automotiva, incluindo startups. A empresa entregou apenas 360 unidades no primeiro trimestre, mas mantém a estimativa de produzir de 12 mil a 14 mil unidades neste ano.

RECORDE NA BOLSA

Se a Lucid não tem medo nem da Porsche, a Rivian também não se intimidou e escolheu um caminho desafiador para estrear. O modelo R1T entra no segmento mais importante dos Estados Unidos, o das picapes. No segundo maior mercado automotivo do mundo (os EUA só perdem para a China), quem manda são os modelos da Ford e da Chevrolet. Pois é com elas que a Rivian disputa.

A picape R1T custa a partir de US$ 67.500 e está equipada com quatro motores elétricos (dois na frente e dois atrás), que juntos geram 835 cv. A marca promete aceleração de zero a 96 km/h em 3 segundos — desempenho admirável para uma picape. Além disso, a bateria é oferecida em três tamanhos, para atender às necessidades do usuário. A menor (e mais leve) tem autonomia de 416 km e é indicada para quem não faz viagens longas com frequência. A maior chega a 640 km. Os modelos também contam com um sistema semiautônomo de condução.

Mesmo antes de pôr seus carros na rua, a Rivian já chamava a atenção de montadoras tradicionais — caso da Ford e da Honda, que investiram na empresa tendo como objetivo o desenvolvimento conjunto de veículos elétricos. Outra que injetou dinheiro na novata foi a Amazon, interessada em uma van para a entrega de mercadorias.

Graças ao fato de a atenção do mundo estar voltada para meios de transporte mais limpos, a Rivian bateu o recorde de captação de dinheiro na bolsa americana no ano passado. Ao abrir o capital, em novembro, a startup levantou US$ 150 bilhões. A Ford tem 11,4% da empresa, enquanto a Amazon detém 17,7%. O gigante do comércio eletrônico fechou um acordo para receber 100 mil vans de entrega até 2030.

EVOLUÇÃO CHINESA

Não faz muito tempo, carro chinês era, no Brasil, sinônimo de qualidade questionável e preço baixo. Mas as coisas mudaram. Quando foi a última vez em que você ouviu falar de um carro da China que custava mais de meio milhão de reais? Pois o Han EV, sedã elétrico de luxo da BYD, custa R$ 540 mil. O modelo tem 494 cv e capacidade para ir de zero

a 100 km/h em apenas 3,9 segundos.

Além do Han EV, que está chegando ao mercado, a BYD importa o SUV Tan EV, também elétrico, à venda por aqui desde abril. O modelo, de sete lugares, tem 517 cv, vai de zero a 100 km/h em 4,6 segundos e custa R$ 487 mil.

Tanto o SUV como o sedã têm autonomia elogiável proporcionada pela bateria — no segundo caso, chega a 500 km. E a recarga é boa. A marca explica que a bateria pode recuperar carga de 30% a 80% em 30 minutos com o carregador de corrente contínua de 110 kW. Dez minutos na tomada são suficientes para que a bateria renda por mais 135 km.

Aliás, eletricidade é a especialidade da BYD, que chegou ao Brasil em 2015 e se estabeleceu em Campinas, com uma fábrica de ônibus elétricos. Dois anos depois, passou a produzir painéis fotovoltaicos para captação solar. Há dois anos, a companhia instalou, em Manaus, uma terceira fábrica para a produção de baterias elétricas. A multinacional também está envolvida em projetos de monotrilhos suspensos — um em Salvador e outro na capital paulista, na linha 17-Ouro.

De volta aos carros, os sistemas de condução semiautônoma também estão na dupla Han e Tan. Ambos os modelos são capazes de se manter na faixa, além de acompanhar o ritmo do veículo da frente (graças ao controlador de velocidade adaptativo) e de frear automaticamente no caso de uma emergência.

Todos esses pontos colocam os carros da BYD muito próximo dos de marcas premium do mercado — e não se trata de sentido figurado. A primeira concessionária da marca chinesa é a Eurobike, grupo que representa nomes como Porsche, BMW, Mini e Audi. O showroom fica na Avenida Cidade Jardim, em São Paulo. Uma voltinha por ali e é possível ver Ferrari, Lamborghini… e, agora, a novidade chinesa. É hora de rever seus conceitos. A propósito, BYD representa as iniciais de "build your dreams", algo como "construa seus sonhos".

"A BYD tem um forte viés tecnológico, e o público da marca valoriza esse aspecto", diz Henry Visconde, presidente do Grupo Eurobike, que já vendeu 20 unidades do Tan desde abril. Mais duas lojas da marca serão abertas em breve no país: uma em Ribeirão Preto, no interior de São Paulo, e outra em Goiânia.

A BYD TEM VIÉS TECNOLÓGICO, E O PÚBLICO DA MARCA VALORIZA ESSE ASPECTO. HENRY VISCONDE, DA EUROBIKE

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2022-06-10T07:00:00.0000000Z

2022-06-10T07:00:00.0000000Z

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